domingo, 27 de março de 2016

despidos suspiros


Provoquei as lembranças, ouvi o ontem, bem vindo amanhã.
Lembrei nós dois, primeiro ontem, nada de olho no olho, apenas sorriso no sorriso. Acho que foi isso que guardei bem de você, mesmo eu, pequena sereia, fora d'água, não querendo guardar nada. Nem segredo, nem mistério, nem lugares seguros. Era tudo muito cinza por aqui, mar turbulento, noite escura e fria. Nem lua cheia enchia o peito, desfocados. Trocamos duas palavras, continuamos cada um do seu lado. Lado esse, barreira entre nós. Desconhecidos, desconectados. Particular acaso, destino traçado de aprender o que é o viver. Intensas paixões levam a lugares indecifráveis, longe de qualquer entendimento humano, surreal. Lá onde as chances de precipícios atirarem-se em nós chega a todo instante. Lá no incansável martelar das horas, dos planos, das expectativas falhas de futuros incertos. Penetrante, incansável, eloquente. Catei estrelas, cobri muros de palavras suadas, de rios sem rumo, sem foz. Caí uma ou duas vezes, não lhe tinha, não me tinha, era eu um barco furado, um mar de silêncio e só. Baú. Saudade de quê? O que é bom, a gente leva em lugares seguros, muito além das tempestades e estiagens provocadas pelo tempo, desuso, mal uso do solo. Não mais infértil, subi ladeira, arrastei dois morros, vi de longe alguém chegar. Não minto, medo de escalar. Muita lama nos pés. Receio de magoar, de não saber sonhar, de não saber doar, se dar. Ah, o ar. Quis dizer não, pensei. Fui pra longe, fugi. Pegastes meu passo, tão longe e tão perto. Cadê? Pensei, canoa bem, canoa no mar. Jangadas sem velas, canoa a gente rema, rema junto, mesmo contra a maré, canoar junto, canoará, canoarei, canoaremos. E foi assim, um sim, desde a lua cheia do fim de agosto, caminhei sozinha ao encontro dela, lá vi você chegando, e  sentindo, quis lhe procurar, quis saber o que queria achar. achei. Hoje, não consigo encontrar passo mais brando, mais seguro, mais compassado junto com o meu. Fecho os olhos e só encontro bem querer, jardim regado, arado. Presente diário, feito de chama nutrida por dois, por nós, que laçam dois mundos, dois destinos e hoje dois passados, ainda recortados, mas pretérito. Não quero nada a mais do que possa levar, mas digo: posso muito além do que desconfiar, posso e quero. País das maravilhas, certezas incertas, bolas de sabão, nuvens coloridas num fim de tarde, desejo muito mais que sorrisos, quero verdade, sensações, quero falhas também, erros acertos, quero o bom, o pior, mas quero. E não lhe digo coração em bandeja, isso fere, lasca. Falo de coisas no lugar onde devem estar. Senta aqui, ouve o meu silêncio, decifra meu olhar, fala além do que eu possa compreender, não me diz nada e me conta tudo. Sem pedidos, não quero nada só quero tudo e ainda mais, se for pra ser. Então. Sem sentido, com sentido, sentimentos. Entrelinhas, entre linha, costurados, atados, assim, por invisíveis fios prateados, de luz clara, manso regado de flor. Brilhou o sol, brilhou os olhos, brilhou meu tempo de ser eu e ter o que tiver de bom pra dar, meu acreditar. Sim, minha oferenda a nós, o acreditar. Nada mais lindo do que a saída de ar de pulmões cheios de céu. Céu esse feito de horizontes mais bonitos, de sonhos sonhados juntos, de balões no ar, menina no balanço, pipa a flutuar. Adoro ver você chegar, de me deixar levar. Me leve. É leve, brisa mansa, caminhar e sempre esperar você voltar... 






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